segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um projeto terapêutico para Alfredo



Esse é Alfredo, cuja imagem é o auto retrato confeccionado por ele no nosso quarto encontro.

Sexo masculino, 30 anos, solteiro, esquizofrênico


Motivo para o acompanhamento

Foi indicado devido a sua dificuldade de se relacionar e conviver em sociedade. Alfredo quase não sai de casa, permanece isolado em seu quarto e a família (pai, mãe e uma irmã) resiste em sair com ele, pois o mesmo emite por quase todo o tempo, gritos e sons considerados esquisitos.


Projeto Terapêutico

O primeiro contato com Alfredo foi realizado em sua residência e quando tentei uma aproximação através do acolhimento e da escuta, Alfredo se mostrou muito arredio. Conversei com a família sobre o seu comportamento, uso de medicação e últimas crises.

Nessa ocasião estabeleci o contrato de trabalho, no qual ficou acordado que nos encontraríamos por uma hora, duas vezes por semana. Observei o ambiente. No momento em que Alfredo gritou, percebi que ele fazia o contato visual (talvez como forma de direcionar a atenção) e foi a partir dessa percepção que elaborei um projeto que envolvesse formas de expressão.

Nos encontros seguintes, disponibilizei cola, revistas, tintas, tecido, arame, com a finalidade de experimentar materiais e descobrir qual desses seria mais atrativo a ele e, apesar da resistência, no quarto encontro, Alfredo pintou a imagem citada e a denominou como o auto-retrato. Não quis atribuir um significado através da fala. A comunicação nesse encontro aconteceu por meio das produções artísticas, nesse caso da pintura e da escrita:

«Caminhava eu com dois amigos pela estrada, então o sol pôs-se; de repente, o céu tornou-se vermelho como o sangue. Parei, apoiei-me no muro, inexplicavelmente cansado. Línguas de fogo e sangue estendiam-se sobre o fiorde preto-azulado. Os meus amigos continuaram a andar, enquanto eu ficava para trás tremendo de medo e senti o grito enorme, infinito, da natureza.»

Sugere-se que a imagem expressa por ele seja a representação da angústia, do medo e do desespero existencial. Na escrita citou os dois amigos, na imagem eles inexistem. Seus gritos, muitas vezes reprimidos, podem ser a expressão de um mundo de isolamento e solidão.

Assim, para os próximos encontros, faço a proposta de convidá-lo a participar de atividades relacionadas à escrita (diário de bordo), ao canto (para ele educar e soltar a sua voz), pintura e posteriormente, saídas pela cidade, no intuito de introduzi-lo em algum grupo, ampliar a rede de relacionamentos e promover a reinserção social.

A proposta tem como finalidade construir uma ponte entre real e o imaginário através das formas de expressão e proporcionar ações em conjunto para que ele se sinta cuidado. Sei que não será nada fácil, mas acredito que o vínculo estabelecido será o suporte necessário para que Alfredo comece a sair do mundo cristalizado no qual vive.



Projeto de Klenia Tavares Duarte Faria - aluna do Curso de Capacitação em AT - turma 2010










sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Um projeto terapêutico para Bart Simpson











Bartholomew Jojo Simpson,conhecido como Bart, é um menino de dez anos de idade estuda na escola municipal de Springfield. É considerado péssimo aluno, medíocre e arruaceiro, passa o dia disparando sua atiradeira em objetos quebráveis e perturbando a paz de todos. Adora andar de skate, passar trotes para bares da cidade e implicar com sua irmã Liza. Diz ser mal compreendido por todos a sua volta. Afirma sofrer perseguições do criminoso Robert “Ajudante Bob” pelo fato de conseguir desmascarar seus planos obscuros e acusa Bob de ter feito uma lavagem cerebral, e que consegui localizar um cometa que irá destruir a terra.

Ao chegar na residência dos Simpsons, encontramos Bart em seu quarto assistindo televisão enquanto sua mãe Marge estava sala cuidando de sua irmã bebê, e Liza sua irmã do meio tocava saxofone.

A acompanhante terapêutica (AT) adentra o quarto e inicia-se o diálogo.


A.T- Boa tarde. Você é o Bart?

Bart- Ih, qual é ? O que é desta vez? Não fui eu não!

A.T- Calma, eu sou a A.T Helena Dias, e estou aqui para passar algumas tardes com você, para te conhecer e fazermos algumas atividades legais juntos.

Bart- Atividades? Mas é de escola? É que eu não curto muito isso não, eu gosto mesmo é quando chove e eu não vou à aula.

A.T- Não, eu não sou professora; mas me conta como é seu dia, o que você gosta de fazer, quem são seus amigos...

Bart- Calma aí, tia, eu gosto de sair de skate atirando com meu estilingue para quebrar lâmpadas e vidraças, meu melhor amigo é o Millhouse, mas ele é muito bobo e certinho, por isso prefiro ser visto em público com o Nelson que é ‘’durão’’ , mas ultimamente não estou saindo muito. É que o Ajudante Bob quer me matar porque eu descobri seus planos, então eu prefiro ficar no meu quarto observando o cometa que eu descobri e que vai destruir a terra.


A.T- (ao observar objetos do palhaço Krusty) Nossa! Você é fã do Krust.

Bart- Sim, inclusive éramos amigos, mas, o Ajudante Bob tentou matá-lo e colocou a culpa em mim.


A.T- Olha Bart, eu vou tomar um copo d´água , enquanto isso gostaria que você fizesse para mim uma lista de todas as coisas que você fazia antes de ser perseguido por esse criminoso, e das coisas que você costuma fazer com sua família e seus amigos.


A A.T desce as escadas e encontra a família de Bart na sala. Homer, de cuecas, assistindo televisão. Meg, tentando chamar a atenção do pai fazendo equações com os cubos de brinquedo e Liza conversando com sua mãe, fazendo comparações de suas notas com as de Bart. Quando Marge chama a atenção de Homer sobre bons modos, ele veste suas calças e vai para o bar.

Ao retornar para o quarto, a A.T encontra Bart fazendo um desenho. Ela percebe que ele é canhoto. O menino mostra o desenho para a A.T. No desenho, Bart e toda a sua família assistem televisão. Ao ser questionado sobre o desenho, diz que é o único momento em que todos ficam juntos, pois Liza não tenta ser melhor que ele, seu pai não briga, sua mãe não resmunga. A A.T pergunta sobre o tipo de programa que eles costumam assistir.

Bart: Quando estamos todos juntos costumamos assistir programas policiais, e quando estou com Liza gosto de assistir aos episódios sangrentos do desenho animado de Comichão e Coçadinha.


A.T- Legal, mas e quando não está assistindo televisão, o que costuma fazer?


Bart- Bom, faço muitas coisas, menos a tarefa de casa. Eu saio para andar de skate, passo alguns trotes por telefone, brinco com meu cachorro, Ajudante de Papai Noel, e com meu gato Bola de Neve, e aos domingos vou com minha família até a igreja ver Deus, o criador.

A.T- E o que você pensa de sua família? Você poderia dizer um ponto positivo e outro negativo de cada um deles?


Bart: A minha família é uma tragédia, família feliz é a dos vizinhos Flanders... A Liza só pensa em tirar o primeiro lugar em tudo, em ser melhor do que eu, e a verdade é que ela é.O Homer, a maior alegria dele é quando está no bar, com os amigos. Minha mãe só reclama de tudo e a Maggie nem sabe falar, mas a verdade é que isso é o mínimo que eles podem fazer, pois, eu sou uma vergonha total, nunca faço nada que seja de se orgulhar, o único que me entende e não me rejeita é o Ajudante de Papai Noel.


A.T- E quem foi que te deu o Ajudante de Papai Noel?


Bart- Bom, o Ajudante de Papai Noel é uma longa história, na noite de Natal o Homer e eu saímos para comprar os presentes da família, mas como o dinheiro era pouco ele resolveu apostar numa corrida de cachorro para ganhar mais dinheiro, só que o cão que ele apostou perdeu e ele ficou sem nada. O dono do cão jogou ele na rua pois ele só perdia, então o Homer pegou ele e trouxe de presente para a família, foi um dia muito feliz, nem ligamos para os presentes, foi um momento lindo!


A.T- Bom, vou conversar com sua mãe para agendar minha próxima visita, e espero que possamos sair, que o ajudante BOB não nos perturbe e que o cometa que você descobriu tenha mudado sua orbita, aliás esta noite você poderia dar uma olhadinha nele quem sabe ele já não está em outra direção, é típico dos cometas fazerem isso.


A A.T conversa com a mãe de Bart questionando a possibilidade das visitas serem três vezes por semana, com duração de uma hora e meia com possibilidades de passeios e atividades envolvendo a família.

A partir do primeiro contato e das informações colhidas, será possível fazer o mapa sociométrico de Bart, avaliando a atração, rejeição e indiferença sentida por ele com relação às pessoas que o cercam.

Bart apresenta uma rede completa, porém, visivelmente enfraquecida. É preciso investigar quando começou seu medo e sua sensação de perseguição analisando os possíveis fatos, sugerindo uma avaliação psiquiátrica, para avaliar a necessidade de medicação e terapias com psicólogo.


Podemos levantar a hipótese de seus medos e perseguições serem reflexos dos programas violentos de televisão que assiste, ou de alguma psicose. Percebe-se que ele sente-se rejeitado e desprovido de qualidades. Sendo assim, proponho aas seguintes intervenções:

· Avaliar, junto a um psiquiatra, se ele é portador de alguma psicose, para cuidas de suas perseguições, e se existe a necessidade de alguma medicação;

· Convencê-lo de que a orbita do “tal” planeta foi modificado, para isso é importante acreditar na existência do planeta, e observar junto com ele até que se chegue à conclusão que realmente o percurso foi modificado e que não representa mais perigo para a terra;

· Propor a troca da programação de televisão que ele assiste na companhia de sua irmã, sugerindo programas que transmitam uma mensagem educativa e não de violência, buscando que ele valorize a amizade de Milhouse, e veja que as pessoas devem ser valorizadas pelo o que elas realmente são, e tenha Liza como uma companheira e para que ela própria seja menos competitiva;

· Mostrar a ele o perigo dos trotes por telefone, e que quebrar lâmpadas de locais públicos não é sinônimo de travessuras e sim de vandalismo, ressaltando as conseqüências de tal ato;

· Incentivar ele e a irmã Liza a fazerem as tarefas de casa juntos, de forma que um ajude o outro;

· Brincar com ele e sua irmã Maggie, mostrando o quanto ele pode ajudar sua irmã a aprender a falar, fazendo com que se sinta responsável e importante;

· Conversar com a família para que organizem seus horários, e façam as refeições juntos sentados a mesa aproveitando o momento para conversarem sobre o dia de cada um de forma construtiva.

· Promover passeios em locais que se encontrem famílias, tipo praça e shopping, para que a partir dos comentários feitos sobre as cenas vistas, sejam colhidas informações do pontos que ele observa, buscando construir um padrão de família que ele idealiza.

· Realizar reuniões com a família, passando de forma cautelosa as situações vividas durante os passeios, buscando reproduzi-las na prática.

· Aproveitar a abertura que ele mostrou ter através de desenhos para que, se observe a evolução do tratamento, pedindo que ele realize desenhos livres, semanais, sendo avaliado e observado o que ele retrata através dos desenhos, se existe algo que ainda não foi exposto.



Projeto de Helena Maria Dias Oliveira - aluna do curso de Capacitação em AT - turma 2010

sábado, 29 de janeiro de 2011

Livro em PDF: Sociologia dos desastres

O livro Sociologia dos Desastres: construções, interfaces e perspectivas no Brasil, está disponível na íntegra, em formato PDF no site Psicologia OnLine.
Basta acessar a página clicando aqui que será direcionado a versão completa do livro!
Muito interessante, um assunto que está em voga, especialmente nesse momento em que nosso país enfrenta a maior catástrofe climática de todos os tempos.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

At e sua vizinhança com a Arte: Banksy

Sem palavras.
www.banksy.co.uk

At e sua vizinhança com a Arte: Performance

Neste último sábado, contamos na aula com a presença da artista visual, Ana Reis Nascimento que nos falou sobre a performance e a relação desta com o espaço público.
Foi muito legal e enriquecedor.
Ela falou um pouco sobre o contexto do surgimento da Performance, sobre sua questão política, contou várias situações pelas quais passou apresentando seu trabalho nas ruas, praças, igrejas, terminais de ônibus.
Assim com a dupla acompanhante e seu paciente os artistas na rua, interferem e sofrem interferências do tecido urbano.
Deixo com vocês o enderenço do blog da Ana:
www.diagramadeprocessos.blogspot.com

Abraços
Ana Paula Scagliarini

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Deriva

No dia 10 de julho fizemos uma Deriva com os alunos do curso de capacitação de Acompanhamento Terapêutico.
Estamos utilizando a Deriva como método de ensino desde que a conhecemos em 2002.
Como cada Deriva é uma experiência única, para mim, desta vez, ficou as possibilidades de contato com as pessoas na cidade.
No meu grupo, colocamos como marcador achar uma família tradicional( pai, mãe e filhos)que encontramos na porta de uma loja de departamentos no centro da cidade.
Outro marcador foi encontrarmos uma pessoa com aparelho nos dentes e andamos pensando em como fazer as pessoas sorrirem para nós.
Intervenções,invenções,surpresas,situações inesperadas.
O acaso tecendo seus fios numa manhã de sábado.
Ana Paula Scagliarini

domingo, 23 de maio de 2010

AT e Cinema: Deficiência mental, quebra de preconceitos e inclusão


A Excêntrica Família de Antônia

Em plena década de 1950 o preconceito contra as mulheres, os tabus, os maus tratos aos deficiente mentais são retratados nesta incrível história! Antônia foi uma mulher que lutou pelo respeito de todos sem jamais deixar de buscar sua felicidade e a felicidade daqueles que gostava. Apoiou a filha (Daniella) na decisão de ser mãe solteira, ajudando-a na criação da neta (Tereza) uma criança superdotada. Ajudou um rapaz com deficiência mental (Boca Mole) numa situação de bullying a quem acolheu e passou a viver com ela, assim como Diddi, outra deficiente mental que sofria abuso sexual de seu próprio irmão, e passou a fazer parte dessa “família”. Acolheu a todos que precisavam de cuidados e afeto.

Um ponto relevante dessa trama é o casamento dos deficientes. É interessante, pois percebemos que a deficiência mental não impede que as pessoas se amem e tenham filhos saudáveis, e sejam capazes de cuidar dessa criança, mesmo com diferenças e deficiencias, mas com respeito e igualdade superamos todas as dificuldades. Isto mostra uma visão contrária à marginalização e aos maus tratos ao deficiente em sociedade.

“O amor estava no ar”... Antônia vivendo um amor maduro, Daniella e a professora de Tereza em um relacionamento lésbico, os deficientes mentais, Tereza e Simon (filho de Ledda, a quem Antônia também acolhera em sua casa, e que passou a se relacionar com um ex-padre), amores não concretizados como o de Madonna (que uivava na lua cheia) e seu vizinho que não suportava os uivos... Amores de todos os tipos.
“Extremidades distintas”- é o caso de Diddi (deficiente mental) e Tereza (superdotada), ambas sofrem com a questão do estrupo, e lidam com o fato de forma madura e consciente. Mas se diferem em um ponto muito interessante na criação dos filhos: Diddi sempre presente e afetuosa; já Tereza demonstrou dificuldades em se relaconar com sua filha.

Um último fator que chama a atenção é a maneira como a diretora retrata a morte. Um foco está para a falta de sentido na vida, que é o motivo para o suicídio de Dedo Torto, um amigo da “família”, filósofo existencialista. O outro foco é o de que todos um dia viverão esse momento. Para Antônia da mesma forma como lidou com a vida, de forma calma, satisfatória e ponderada assim foi sua morte. Certo dia, Antonia acordou e sabia que aquele seria o dia de sua morte, e simplesmente viveu a felicidade de seu último dia assim como os últimos minutos ao lada das pessoas a quem amava.Por fim, quem conta toda essa história é a Bisneta de Antônia.

Para você, leitor, fica a sugestão para ver (ou rever) este belo drama ambientado na Holanda, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 1996.

Texto criado pelos alunos do 4º período de Psicologia do Centro Universitário do Triângulo – UNITRI: Jaqueline, Janice, Sirley, Cristiane, Bárbara, Anderson, Débora, Lorena, Tiago.
Postado pela prof.ª Ana Paula de Freitas (Trilhas/UNITRI)