Trilhas
Blog Trilhas - Equipe de Acompanhantes Terapêuticas de Uberlândia, MG, Brasil.
terça-feira, 26 de maio de 2015
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
Confiram abaixo os criativos trabalhos de conclusão dos alunos no 10º Curso de Capacitação em AT realizado pela Trilhas!
Projeto terapêutico para Getúlio
Brasília
- DF, 06 de janeiro de 1954
Residência
de Hugo Mendes, no caso eu, que vos conto essa história.
- Correspondência! Há tempos não
recebo correspondências!
Prezado Sr. Hugo Mendes.
Envio
este com o propósito de marcar um encontro para tratarmos de negócios. Sei que
há tempos não faz mais acompanhamentos terapêuticos, mas acredito que você seja
a pessoa mais indicada para o que preciso, além de saber também que as
"coisas" na pastelaria estão de mal a pior, o que lamento profundamente.
Sendo assim, te aguardo na próxima segunda, às 9h, no Café Central, mesa 17. Sem
atrasos, por gentileza. Lá falaremos sobre os detalhes.
Cordialmente,
Alzira.
Receber
uma correspondência intrigante como essa, em plena sexta-feira, não é fácil
para uma pessoa ansiosa, talvez neurótica, como eu. Há quanto tempo não pensava
em Acompanhamento Terapêutico? Será que ainda tinha condições de trabalhar
nessa área depois de nove anos atrás de um balcão? Tá certo que as coisas não
andavam muito bem financeiramente, mas com certeza fritar pastéis era muito
mais seguro. Fora o fato de que nem sabia quem era essa Alzira. Pra ser sincero,
nem sabia mais o que seria do meu fim de semana, considerando que isso não
sairia da minha cabeça até o tal encontro. Acompanhamento Terapêutico é algo
que mexe muito comigo.
Eis
que às 9h em ponto estava eu na mesa 17 do Café Central. Logo após, senta-se
uma mulher, na faixa dos 30 e poucos anos, na minha frente. Muito prazer, Sr. Hugo, sou Alzira. Alzira
Vargas. Meu mundo caiu. Alzira Vargas só existia uma, ainda mais no Rio de
Janeiro da década de 50: era a filha do Presidente Getúlio. Mas pra quê uma
mulher tão imponente e segura de si precisava de Acompanhamento terapêutico?
-
Bom, serei direta, não pense que é pra mim. É pro meu pai.
-
Pro seu pai???? Getúlio????
Sou o tipo de pessoa que exagera em
expressões faciais quando me sinto chocado.
-
Sim, e quem mais seria?
-
Desculpe a indelicadeza, Sra. Alzira, mas o presidente Getúlio não me parece
precisar de um acompanhante terapêutico, talvez de uma enfermeira, se pensarmos
na sua idade, mas isso é outra história.
É incrível como falo demais.
-
Agradeço sua opinião, apesar da irrelevância dela. Vou listar alguns pontos que
me trouxeram até o senhor, pra que possamos conversar de maneira mais clara. É
interessante que sejamos rápidos, tenho muito trabalho hoje. Bom, creio que
deve saber que meu pai está com 72 anos de idade e ainda assim insiste em
permanecer envolvido com política. Ele está cansado e não aceita parar. O que
quero é simples: preciso que dê um jeito de tirá-lo o quanto antes desse meio.
Ele precisa sair de casa, pensar em outras coisas. Viajar para descansar, quem
sabe. Ou morrerá.
-
Simples?
-
Simples para você, acredito. Aceita minha proposta?
Pensei em fazer um charme, mas aceitei no
mesmo instante:
-
Hoje mesmo irei até a casa de vocês, falei. Às 13h. Proponho que me convide para almoçar.
E
foi nesse contexto que tudo começou. Pra ser sincero, não fui bem recebido por
Getúlio, que nem sequer quis saber meu nome. Apresentei-me mesmo assim. Percebi
que era um senhor muito ativo mentalmente, apesar de debilitado no sentido
físico. Raciocínio rápido e lógico, concentrado, atento e com uma capacidade
fantástica para resolver conflitos. Nunca vi tanto problema durante um almoço.
Senti até saudades dos almoços na casa da vovó.
Alzira
deixou claro para o pai os motivos de eu lá estar. “É tipo um amigo comprado?”, ele perguntou. E foi assim que, aos
poucos, fui conhecendo Getúlio. Era um senhor de postura curvada, já precisando
de ajuda na realização de suas atividades diárias, apesar de isso o incomodar
muito. Não havia aceitado sua decadência física justamente por compará-la à sua
capacidade mental. Há muito tempo não saía de casa, a não ser em momentos
extremamente necessários ou que envolviam sua prática política. Preferia ficar
distante dos embates com Carlos Lacerda, seu inimigo político que, como dizia,
“era o mais esperto de todos”.
No
último ano, disse Alzira que o pai reduziu significativamente seus contatos
pessoais. “Fala mais comigo agora. Os
meninos vêm visitá-lo e passeiam pelo jardim”. Foi aí que propus minha
primeira intervenção: que pudéssemos caminhar, eu e Getúlio, diariamente e por
1 hora, pelo jardim do Palácio do Catete. Minha ideia inicial era conhecer esse
lugar, estava super curioso, brincadeira: era estabelecer um vínculo que até
então não havia se estabelecido, devido à personalidade forte e fechada do
presidente. Para tirá-lo de casa e dessa zona de conforto, eu precisava
oferecer mais confiança.
Após
dois meses de longas conversas e um possível início de amizade, Getúlio se diz
cansado dessa vida que, para ele, “se
tornou um mar de mentiras e corrupções. Não por minha culpa, Hugo, mas pela
oposição. É muito frustrante passar uma vida toda se dedicando ao povo, aos
problemas do seu país e ver esse mesmo povo contra você. Ninguém sabe o que
enfrentei e tenho enfrentado nos últimos meses”.
Não posso dizer que
me senti feliz com o que veio após essa conversa, mas foi o suficiente para
criar o vínculo que até então procurava um lugar para poder se firmar: num tropeço
pelo jardim, Getúlio foi ao chão. Fui ajudá-lo, porém ele negou. Ao tentar
levantar, o presidente percebeu que não conseguiria sem meu apoio. Foi através
de uma troca de olhares que me pareceu constrangedora num primeiro momento, mas
que rapidamente se transformou em um pedido íntimo de ajuda que Getúlio estendeu
o braço em minha direção. Eu o levantei e, talvez num ímpeto de sentimento, fui
abraçado. Nada mais que dois segundos, mas desde esse dia os caminhos se
direcionaram em outros sentidos.
Já
era meio de Maio quando o convenci a sair de casa – intervenção número dois.
Numero as intervenções principais por acreditar na necessidade de expô-las para
sustentar minha prática enquanto acompanhante terapêutico. Por vários momentos
me vi envolvido sentimentalmente por Getúlio e pasmem, se ele se candidatasse
de novo, eu até faria campanha. Homem bom, comunicativo, líder e um excelente
pai. Mas ali eu era seu acompanhante, contratado por sua filha para a
realização de um trabalho. Trabalho este, inclusive, que começava a dar o
retorno esperado até mesmo por mim, que até então me sentia desacreditado da
possibilidade de levar essa proposta adiante. “Ô homem teimoso!”, eu dizia pra
mim mesmo e às vezes para ele, que apenas sorria.
- Seu
Getúlio, amanhã nós vamos dar uma volta pelo centro da cidade. O que acha de
caminharmos fora do Palácio do Catete, pelas ruas do Rio que cada vez mais se
modernizam? É obra do seu Governo, Seu Getúlio, o senhor tem que ver!
-
Hugo, não precisa vir com essa conversa de que é obra minha e blá blá blá, eu
já sei disso. Podemos sair sim, mas quero ir à praia. E tenho uma condição.
-
Qual?
-
Vou disfarçado. Não dá pra sair na rua de mim mesmo, concorda?
Eu
já havia pensado nisso, mas achei que seria muita intromissão da minha parte
oferecer essa possibilidade. Mas confesso que achei Getúlio muito saidinho e
perspicaz por pensar nisso. Não me surpreendi, mas achei inovador, tratando-se
de um presidente. De 72 anos, diga-se de passagem.
-
Mas como ir disfarçado na praia, Seu Getúlio? De sunguinha? Ri
muito por dentro.
- Muito
me espanta você ser tão restrito assim, meu filho. Já ouviu falar de caminhadas
pela orla?
Opa! Me chamou de meu filho??? A coisa tá
ficando boa.
- Certo,
Seu Getúlio. 8h30 em ponto estarei na porta. Ansioso pelo seu disfarce.
-
Aguarde e confie, disse ele.
Como marcado, às 8h30 eu já estava aguardando o presidente
na porta do palácio. Vejo então Alzira vindo em minha direção, com um sorriso
no rosto, acompanhada de um senhor vestido de paletó, calça e sapatos brancos,
um chapéu na cabeça e uma camisa vermelha listrada de branco por baixo: Eu sempre quis me vestir de malandro! Mas
não conte pra ninguém, foi uma luta transformar os malandros da década passada
em trabalhadores. Ô classe complicada! Mas fala que não fiquei elegante?
-
Elegante e discreto, né, Seu Getúlio? Ninguém vai nos notar, hahaha.
Brincadeira. Ficou ótimo, não é mesmo, Alzira?
-
Sim. Papai até rejuvenesceu. Agora vão e aproveitem!
E
foi a partir desse dia que tudo mudou. Quando saímos pelas ruas do Rio, Getúlio
teve acesso a uma liberdade até então guardada dentro de sua memória. Há anos
não podia caminhar ou ir até outros lugares sem ser notado ou sem vários
seguranças. Ficamos por 20 minutos sentados em frente ao mar de Copacabana e em
silêncio. Percebi seus olhos marejados de lágrimas. Parecia feliz.
A
minha proposta era que ficássemos, naquele dia em especial, por 1h andando
entre algumas ruas e pela orla de Copacabana. Getúlio estava cansado e não
podia exagerar. Andamos pouco, dividimos nosso tempo entre a praia e um
botequim na esquina da Siqueira Campos. Tomei um café com leite e Seu Getúlio,
quase todo o tempo de cabeça baixa, um pão com margarina na chapa e um café
preto. Até parecia um homem simples.
Como
a rotina de caminhar diariamente por algumas ruas do Rio me parecia muito
cansativa para o presidente, propus a última intervenção, em junho daquele ano:
que revezássemos entre caminhadas no palácio e caminhadas pelas ruas da cidade.
E que essas caminhadas fora da cidade pudessem ser direcionadas, como visitas
em locais que agradassem-no, ou cafés e alguns bares específicos, enfim, para
que assim pudéssemos nos relacionar com o meio de maneira mais efetiva, uma vez
que até então estávamos disponíveis às várias possibilidades que a cidade pode
oferecer.
Nessa
época as coisas não andavam muito bem entre Getúlio e Lacerda. O presidente
estava completamente absorvido por problemas políticos e só continuei o
acompanhamento pelo fato de que ele mesmo fazia questão das nossas caminhadas.
Dizia que era a hora de ser ele mesmo. A família apoiava nossas saídas, mas
todos estavam preocupados com sua saúde e com o rumo que sua carreia política
iria tomar. Getúlio não era homem de perder.
Certo
dia, não me lembro a data, estávamos no Bar Tradicional, na Delfim Moreira - já
tínhamos nos enjoado de Copacabana, partimos pro Leblon - e um debate político
estava acontecendo. Ficamos apenas observando e, infelizmente, a maioria dos
que ali estava eram contra Getúlio. Ouvimos absurdos com o nome do presidente,
que permaneceu em silêncio e de cabeça baixa o tempo todo. Queriam que saísse
do poder o quanto antes. Que antigamente era bom, mas que agora não passava um "velho
gagá" autoritário. E por aí foi.
Quando
saímos, Getúlio nada disse. Tentei falar que isso era normal num ambiente de
oposição e que ninguém melhor do que ele pra saber disso. Mas percebi que ficou
em conflito consigo mesmo. No outro dia não quis me ver. Conversei com Alzira,
que disse que o pai não saiu do quarto, e passou o dia vendo televisão e os
noticiários sobre seu governo. Ela estava preocupada.
Não
quis insistir no nosso encontro naquele dia. Me lembrei de algumas conversas em
que o presidente dizia estar vivo por ser bem quisto pelo povo. Nos últimos
meses suas práticas no governo foram atacadas por diversos setores sociais e
até mesmo por alguns sindicatos. Getúlio se mostrava mais frágil nesse sentido.
Não aceitava a rejeição popular. Houve também o atentado de seu capanga contra
Lacerda, que piorou toda a situação.
Dois
dias após o ocorrido caminhamos pelo palácio. Era dia 23 de agosto de 1954, não
posso me esquecer. Getúlio disse que ia sair da política de vez, mas de cabeça
erguida. Que havia compreendido qual seu papel enquanto presidente da república
nos seus dois mandatos e que já era hora de encerrar seu trabalho. E que nossas
caminhadas e saídas pela cidade haviam sido muito esclarecedoras para que ele
tomasse essa decisão.
- É
hora de encerrar minha vida política, Hugo.
-
Concordo com o senhor, Seu Getúlio. Na verdade, apoio a decisão que tomar.
Acredito que é hora de se dedicar à família, às caminhadas, aos amigos...
-
Será possível?
-
Claro que sim! O senhor fez muito pelo Brasil, agora precisa descansar.
- Eu
vou descansar. Mas antes quero entrar de verdade para a história desse país!
-
Mais, Seu Getúlio?
-
Sim, mais.
- E
como?
O
presidente apenas me deu aquele sorriso de lado, depois um abraço e se
despediu. Senti que o acompanhamento terapêutico tinha acabado ali. Eu estava
bem, com a consciência de um trabalho realizado de maneira coerente. Há tempos
não fazia isso, me parecia a primeira vez. Voltei pra casa e me dei conta de
como eu havia me envolvido com tudo aquilo. O que seria do presidente? Como o
povo reagiria à sua saída da presidência? Seria uma vitória e tanta para a
oposição: fazer com que Getúlio deixasse seu cargo, mostrando ao povo que
fracassou enquanto presidente da República.
No
outro dia acordei mais tarde que o normal, às 9h. Fui até a varanda pegar o
jornal e notei uma certa correria pelas ruas. Algo estava acontecendo, mas nada
havia naquela papelada toda em minhas mãos que me explicassem o que era. Foi
quando escutei alguém passando na porta e falando, num tom mais alto: O presidente Getúlio se matou.
Fiquei
em choque. Não pude acreditar no que ouvi e achei quase engraçado. Me troquei
rapidamente e saí pelas ruas a procura de informações. Não demorou muito e já
sabia de tudo: Getúlio foi pressionado a madrugada toda por generais,
almirantes e brigadeiros para que renunciasse. Às 4 da manhã teve uma reunião
de emergência com assessores e Alzira. Às 8h se matou com um tiro.
Ele
deixou uma carta ao povo brasileiro. Uma linda carta, inclusive. Nela, Getúlio
expôs seus anseios e realizações para e com o povo de maneira genial: colocou
seus sentimentos à tona, mas racionalmente. O presidente era assim, sabia lidar
com todos, era flexível. Flexível para perceber, de acordo com Alzira, que me
contou dias depois, que após nossas saídas e conversas o pai pode se enxergar
através de mim, das conversas que escutamos, do povo nas ruas e de sua própria
família. O presidente estava aberto. Aberto até mesmo para a morte.
E
após ler sua carta tive a certeza de que desde nossa última conversa Getúlio já
sabia o que faria. Ele iria se matar e estava tranquilo com relação a isso.
Cheguei a me sentir quase seu confidente quando li sua última frase: Saio da vida para entrar na história. Era
esse o 'mais' que eu perguntei quando nos despedimos. Getúlio sabia que pra
entrar, de fato, pra história do Brasil, enquanto um presidente que poderia
chegar a ser até mesmo considerado um herói do povo brasileiro, precisava
morrer.
Entendi
que quando o presidente disse que era hora de encerrar sua carreira política
queria dizer que era hora também de encerrar sua vida. Há uma certa coerência
se pensarmos naquilo que considerava enquanto prioridade. A vida de Getúlio era
a política. Ou a política era a vida de Getúlio. Ele não saberia viver sem ela.
E, com certeza, ela nunca mais seria a mesma sem ele.
Hugo Mendes Miranda
Projeto terapêutico para Simão Bacamarte
Projeto criado pelo aluno Rafael Venturini da Silva - Dezembro de 2014
É a primeira noite que passo em Itaguaí, e estou animado
novamente depois dos últimos reveses. Já a tempos procuro ter uma conversa com Simão Bacamarte, desde o momento que um grande amigo me informou do grande
médico que viera de Coimbra para tratar de moléstias da mente.
Por ocasião de questões familiares não pude ir de pronto
conhecê-lo, tive que ficar por volta de três meses na casa de meus parentes no
Rio de Janeiro. Durante a estadia ouvi boatos a respeito de sua mulher, D.
Evarista, e a comitiva que a acompanhara tempos atrás, porém, aos poucos foram
surgindo muitas falas desencontradas a respeito do próprio Bacamarte: uns
diziam que ele estava usurpando da sua função para benefício próprio, já também
se ouvia sobre sua imparcialidade no trato com as questões científicas, tendo
ele trancado sua própria mulher e amigo dentro de sua casa de Orates. Com o
passar do tempo elas ficaram cada vez mais confusas, se falava de revoltas que
tomaram a câmara de Itaguaí, de que ele aprisionou mais de metade da população em seu
edifício e que depois, repentinamente, soltou todos.
Apesar de tudo, ouvir esses fatos não me desanimou a ir de
encontro ao médico, entretanto, no dia em que estava tomando rumo para Itaguaí,
dou-me com a notícia que ele decidirá trancar-se dentro da Casa Verde para
tratar-se, isso já fazia meses, e não parecia ter novas notícias dele. Essa informação
me abalou prontamente, fiquei durante toda viagem remoendo ela, mas como já
tinha me implicado suficiente nessa empreita decidi não abandoná-la.
Ao chegar hoje cedo em Itaguaí fui tentar encontrar sua
mulher e outras pessoas que tiveram maior contato com o médico. Acabei
encontrando-a na casa de Crispim Soares, boticário e amigo de Bacamarte, lá ela
tomava café da manhã com Crispim e sua mulher, aproveitando a ocasião me
apresentei, falei de minha formação médica, no meu interesse no estudo das
moléstias nervosas e que vim para tentar captar algo dos ensinamentos de Simão Bacamarte.
Apresentando minha proposta logo vi certo desconforto por
parte de todos, que ficaram em silêncio na sala. Porém sua mulher interrompeu
sua mudez para tentar contar toda história que ocorrera desde o início da Casa
Verde, e tenho que confessar que o que ela, e em menor parte Crispim, me
contaram daria um bom conto nas mãos de alguém talentoso.
Ainda decidido a saber mais sobre Bacamarte e suas idéias
fui ter uma conversa com padre Lopes, que além de ser um grande amigo íntimo
também era alguém com quem ele travava conversas sobre suas idéias. Fiquei surpreso em
saber que ele também fora um de seus pacientes, acabei até mesmo perguntando
sobre detalhes de seu tratamento.
Ouvindo o relato do Padre fiquei entusiasmado novamente em
conhecê-lo, também fiquei prestando atenção na cidade, vendo se os habitantes
dela tinham alguma marca do tempo em que foram tratados por Bacamarte. Tive uma
impressão que os habitantes realmente parecem mais destemperados por essa banda
em relação a outras que já visitei por perto, mas me acho em uma situação
frágil para dizer isso, já que só conheço a cidade por um dia, e esse
destempero percebido pode ser um mero desejo meu de ver minhas crenças
corroboradas pela realidade.
Acabei não almoçando, só comendo à noite na hospedaria em
que me encontro, passei toda a tarde conversando com os barbeiros da cidade,
pessoas notáveis e membros da câmara. A cada relato me fascino cada vez mais
com a história que essa cidade leva, porém sinto que vou encontrar um paciente
ao invés de um mestre quando encontrar Bacamarte.
Vou visitar a Casa Verde amanhã, não sei o horário ainda,
espero que ocorra tudo certo.
****
Acabo de chegar de um encontro que tive com D. Evarista,
Acabo de lhe contar como foi o encontro com seu marido logo pela manhã, ela se
emocionou e chegou até a chorar em um momento. Em sua tristeza diz não saber o
que fazer, que tem saudades e tem medo que algum ruim lhe aconteça. Acalmo-a,
digo que planejo ficar lá por mais um tempo, meses penso eu, falo que a
situação dele não é tão grave, que passa o dia inteiro a estudar buscando a
cura para si. Ao me despedir dela, até vir aqui escrever em meu diário, fiquei
pensando no que fazer com o que vi hoje.
Ao chegar de manhã na Casa Verde bati à porta mas não fui
atendido, andei por um bom tempo ao redor do local até perceber um vulto em uma
janela, fiquei gritando em direção a ela para ver se alguém me escutava, depois
de um tempo ela caba se abrindo, aparecendo a figura de Simão Bacamarte. Peço um
tempo para falar com ele, a princípio se nega, diz estar ocupado, insisto, falo
de meus propósitos e do interesse em comum que temos sobre as moléstias, com
muita insistência me deixa entrar e conversamos por quase uma hora.
Lá me explica sobre suas teorias psicológicas e sobre a
moléstia que lhe atinge, confesso que acho sua visão um tanto romântica, a de
ver o equilíbrio como algo patológico, o espanto é maior vindo de alguém
altamente equilibrado. A conversa foi agradável, mas uma hora me pede para sair
já que deseja continuar com sua pesquisa.
Agora me vejo em uma situação em que concordo e discordo de
Bacamarte. Concordo com sua ideia de que o desequilíbrio seja algo saudável,
apesar de ter um certo receio em aceitar totalmente essa premissa, talvez nos
próximos encontros que tivermos eu possa conhecer mais sua proposta. De outro
lado percebo em mim uma certa prontidão em ajudá-lo, mas acho que o caminho que
tem trilhado até agora para tratar de sua moléstia pode não ser o melhor, não sei o
quanto ele é capaz de mudar suas características ficando confinado em seu
escritório.
Outra coisa me chamou bastante atenção: não seria seu
descaso com a esposa e amigos algo que apresenta um certo desequilíbrio de seu
caráter? Talvez sua teoria possa ter algum furo, afinal de contas ele já a
modificou anteriormente, talvez faça isso novamente.
Espero que de tempo suficiente de aprender e ajudar-lo.
Penso em propor que ele entre em contato com o mundo exterior aquelas paredes
que ele está enclausurado, já que estar lá não o tem ajudado em nada. Também é
preciso prestar alguma ajuda a sua esposa, não sei o quanto estar ligado a um
homem que parece estar alheio ao mundo e a ela pode acarretar um mal a sua
alma.
Mas por hoje espero conversar mais com os outros habitantes
da cidade para conseguir maiores informações sobre o caso, amanhã visito-o
novamente, vou tentar propor aos poucos sua saída, caso não aconteça, tentarei
propor a alguns habitantes, talvez a própria D. Evarista, que o visitem, se
isso não o ajudar em sua cura pelo menos vai lhe propiciar maior cuidado.
Um projeto terapêutico para Elsa
Projeto criado pela aluna Sandra Regina Vasconcelos - dezembro 2014
A trama conta a história de duas irmãs chamadas Elsa e
Anna, que eram completamente grudadas quando pequenas. Elsa, a irmã mais velha,
nasceu com um poder sobrenatural. Um poder de controlar a neve, o poder do
gelo. Porém, Anna, a irmã mais nova, nasceu normal.
Em uma manhã, Anna levanta da cama e acorda Elsa para as duas irem a sala brincar. Anna ama as brincadeiras e a neve que a Elsa faz. No meio dessa brincadeira, Elsa escorrega e acaba afetando a cabeça de Anna com um raio de gelo. Elsa desesperada ao ver sua irmã caída desacordada, grita pelos seus pais. Essa brincadeira que quase acabou com a vida de Anna, fez com que o Rei e a Rainha ordenassem para fechar os portões por tempo indeterminado, para que ninguém descobrisse o poder de Elsa. A partir desse dia, Elsa perdeu totalmente o contato com a irmã após o acidente, ficando somente trancada em seu quarto durante anos.
Anna, a irmã mais nova, é divertida, alegre, às vezes boba, desastrada e frívola, mas no fundo cultiva um grande amor pela irmã mais velha, por quem se sente abandonada e se angustia por não compreender a retirada súbita do afeto que a irmã mais velha nutria por ela quando eram crianças pequenas. Seus poderes, apesar de belos, podem ser muito perigosos se não forem precisamente controlados. Elsa, após tanto tempo isolada de tudo, por vezes vê seus poderes como uma desgraça e apresenta sentimentos e pensamentos confusos e contraditórios apesar da calma e do autocontrole que aparenta ter.
O contato com a AT (acompanhante terapêutica) foi feito por uma amiga da família que não agüenta mais ver a irmã mais nova de Elsa implorar na porta do quarto para que a irmã viesse brincar com ela, e a constante tristeza estampada no rosto dos pais, por estar em uma situação que até o momento para eles era insolúvel. A AT fez o primeiro contato com a família em uma tarde de domingo chuvosa. Estavam todos ali presente, o pai, a mãe, a irmã Ana e Elsa trancada. Após se apresentarem, a mãe se mostra surpresa com a atitude da amiga, mas com ar de expectativa do que poderia vir a ser esse “tal” AT. Com muita sutileza a AT foi explicando as possibilidades de desempenhar um trabalho de acompanhamento terapêutico junto aquela família, promovendo a Elsa um processo de autodescoberta bastante complexo, em busca não somente do controle de seus poderes, mas também do controle de suas emoções e sentimentos. Objetivava a reintegração das relações, voltando a ser como eram antes do acidente, felizes. Era notável naquele rosto sofrido um arzinho de esperança. Logo a AT oferece em fazer um breve contrato de trabalho, três meses, deixando claro que este acompanhamento seria inicialmente apenas dois encontros semanais de uma hora cada e seus receptivos valores a serem pagos no final de cada mês. Foi firmado que após este tempo, caso necessário, fariam um novo contrato. Foi então marcado o encontro para a próxima terça-feira, às 14 horas. Ambos agradeceram e foram embora!
Em uma manhã, Anna levanta da cama e acorda Elsa para as duas irem a sala brincar. Anna ama as brincadeiras e a neve que a Elsa faz. No meio dessa brincadeira, Elsa escorrega e acaba afetando a cabeça de Anna com um raio de gelo. Elsa desesperada ao ver sua irmã caída desacordada, grita pelos seus pais. Essa brincadeira que quase acabou com a vida de Anna, fez com que o Rei e a Rainha ordenassem para fechar os portões por tempo indeterminado, para que ninguém descobrisse o poder de Elsa. A partir desse dia, Elsa perdeu totalmente o contato com a irmã após o acidente, ficando somente trancada em seu quarto durante anos.
Anna, a irmã mais nova, é divertida, alegre, às vezes boba, desastrada e frívola, mas no fundo cultiva um grande amor pela irmã mais velha, por quem se sente abandonada e se angustia por não compreender a retirada súbita do afeto que a irmã mais velha nutria por ela quando eram crianças pequenas. Seus poderes, apesar de belos, podem ser muito perigosos se não forem precisamente controlados. Elsa, após tanto tempo isolada de tudo, por vezes vê seus poderes como uma desgraça e apresenta sentimentos e pensamentos confusos e contraditórios apesar da calma e do autocontrole que aparenta ter.
O contato com a AT (acompanhante terapêutica) foi feito por uma amiga da família que não agüenta mais ver a irmã mais nova de Elsa implorar na porta do quarto para que a irmã viesse brincar com ela, e a constante tristeza estampada no rosto dos pais, por estar em uma situação que até o momento para eles era insolúvel. A AT fez o primeiro contato com a família em uma tarde de domingo chuvosa. Estavam todos ali presente, o pai, a mãe, a irmã Ana e Elsa trancada. Após se apresentarem, a mãe se mostra surpresa com a atitude da amiga, mas com ar de expectativa do que poderia vir a ser esse “tal” AT. Com muita sutileza a AT foi explicando as possibilidades de desempenhar um trabalho de acompanhamento terapêutico junto aquela família, promovendo a Elsa um processo de autodescoberta bastante complexo, em busca não somente do controle de seus poderes, mas também do controle de suas emoções e sentimentos. Objetivava a reintegração das relações, voltando a ser como eram antes do acidente, felizes. Era notável naquele rosto sofrido um arzinho de esperança. Logo a AT oferece em fazer um breve contrato de trabalho, três meses, deixando claro que este acompanhamento seria inicialmente apenas dois encontros semanais de uma hora cada e seus receptivos valores a serem pagos no final de cada mês. Foi firmado que após este tempo, caso necessário, fariam um novo contrato. Foi então marcado o encontro para a próxima terça-feira, às 14 horas. Ambos agradeceram e foram embora!
Malévola
Projeto criado por Gabriela Thais Oliveira - dezembro de 2014
Malévola é uma fada
poderosa que vive em um brejo mágico fronteiriço a um reino humano. Quando
jovem ela se apaixona por Stefan, um camponês cujo amor que sentia por Malévola
foi suprimido pela ambição. Ainda quando bem jovens eles se separam, e Stefan
volta para encontrá-la tempos depois. Em uma batalha, após Malévola derrotar o
rei, este anuncia que quem matá-la será nomeado o novo rei de seu reino.
Stefan, ambicioso, sonhava em ser rei, aproxima-se então de Malévola e ao invés
de matá-la, arranca suas asas, e as leva ao rei. Depois dessa essa traição,
tudo muda para Malévola, ela constrói um reino de escuridão e torna-se uma fada
má, amarga, arrogante e com sede de vingança. Por não ter mais asas, toma um corvo
como seu “capacho”, transformando-o em vários animais sempre que necessita.
Dieval, o corvo, é quem contrata os serviços da A.T. A princípio Malévola não concorda, pois acredita que não precisa de ajuda, mas é Dieval que a convence de pelo menos receber a AT uma vez para saber como será. Ao chamar a AT, Dieval conta que desde que Malévola foi traída por Stefan, ela mudou-se completamente, fixando-se apenas neste fato do passado, tudo girava em torno disso, Malévola não conseguia um dia sequer não pensar ou não falar sobre o ódio que sentia por Stefan, esse ódio transformou seu mundo em um lugar escuro e triste. Mas o que mais estava preocupando Dieval, era que de uns tempos pra cá, essa fixação estava mais forte ainda, e Malévola passava todo o seu tempo planejando planos mirabolantes para vingar-se de Stefan.
Dieval, o corvo, é quem contrata os serviços da A.T. A princípio Malévola não concorda, pois acredita que não precisa de ajuda, mas é Dieval que a convence de pelo menos receber a AT uma vez para saber como será. Ao chamar a AT, Dieval conta que desde que Malévola foi traída por Stefan, ela mudou-se completamente, fixando-se apenas neste fato do passado, tudo girava em torno disso, Malévola não conseguia um dia sequer não pensar ou não falar sobre o ódio que sentia por Stefan, esse ódio transformou seu mundo em um lugar escuro e triste. Mas o que mais estava preocupando Dieval, era que de uns tempos pra cá, essa fixação estava mais forte ainda, e Malévola passava todo o seu tempo planejando planos mirabolantes para vingar-se de Stefan.
O
primeiro encontro com Malévola se deu em sua casa, onde ela estava em um quarto
totalmente sem iluminção, que não dava se quer para vê-la dentro. A at, a
convidou para que saísse com ela pelo seu reino pois queria conhecê-lo, e
enquanto isso conversassem um pouco. Como previsto, Malévola não aceitou. A at
então, perguntou se podia entrar no seu quarto, sem ter resposta, ousou-se a
entrar. Nesse quarto escuro se deu o primeiro encontro, o qual teve alguns
diálogos:
AT:
Oi, já que não quer me apresentar seu reino, vou ficar aqui com você.
Malévola: Qual o motivo de querer conhecer meu reino? Um reino escuro, sombrio e cheio de maldade? Você está mentindo ao dizer que quer conhecê-lo.
AT: Mas não foi isso que eu notei nos lugares que passei até chegar aqui. Realmente a maior parte que vi é escura e sombria, mas também pude ver outras coisas como flores e passarinhos verdes.
Malévola: No meu reino não tem essas coisas com cores, certamente não foi aqui que você viu isso.
Responde, com toda arrogância.
AT: Ahhhh, foi aqui sim. Inclusive bem próximo à sua casa encontrei com vários pássaros coloridos cantando.
Malévola: Não, no meu reino não. Ele não foi criado para isso. Aqui não prosperam pássaros. Aqui só vivem os pássaros negros e amaldiçoados.
A AT insiste em dizer que havia encontrado outras coisas, mas Malévola se irrita e diz em voz alta:
__Ninguém conhece este reino tão bem quanto eu, fui eu quem o criou assim e sei cada pedaço que ele tem . Ele é todo negro e não cabe nenhuma outra cor. Gosto dele escuro, e por isso nunca terá luz ou qualquer colorido.
Depois desse momento, não teve nenhuma outra conversa por parte de Malévola. A AT foi embora e disse que voltaria para que elas continuassem a conversar.
Outras sessões se deram, e a cada vez ficava mais claro para a AT a forma que Malévola via o mundo. Seus discursos giravam sempre em torno do ódio e da vingança. O vínculo terapêutico foi se dando gradativamente, e cada vez se fortalecendo mais.
Agora Malévola já saia do quarto, e já havia passeado com a AT em algumas partes do reino. A desconfiança que sentia de todos também era clara, mas a AT notava que em alguns momentos Malévola amolecia um pouco, deixando escorrer algumas lágrimas que rapidamente eram secas, demonstrando de certa forma, confiança em expor sentimentos como a tristeza, na opinião da AT.
Malévola: Qual o motivo de querer conhecer meu reino? Um reino escuro, sombrio e cheio de maldade? Você está mentindo ao dizer que quer conhecê-lo.
AT: Mas não foi isso que eu notei nos lugares que passei até chegar aqui. Realmente a maior parte que vi é escura e sombria, mas também pude ver outras coisas como flores e passarinhos verdes.
Malévola: No meu reino não tem essas coisas com cores, certamente não foi aqui que você viu isso.
Responde, com toda arrogância.
AT: Ahhhh, foi aqui sim. Inclusive bem próximo à sua casa encontrei com vários pássaros coloridos cantando.
Malévola: Não, no meu reino não. Ele não foi criado para isso. Aqui não prosperam pássaros. Aqui só vivem os pássaros negros e amaldiçoados.
A AT insiste em dizer que havia encontrado outras coisas, mas Malévola se irrita e diz em voz alta:
__Ninguém conhece este reino tão bem quanto eu, fui eu quem o criou assim e sei cada pedaço que ele tem . Ele é todo negro e não cabe nenhuma outra cor. Gosto dele escuro, e por isso nunca terá luz ou qualquer colorido.
Depois desse momento, não teve nenhuma outra conversa por parte de Malévola. A AT foi embora e disse que voltaria para que elas continuassem a conversar.
Outras sessões se deram, e a cada vez ficava mais claro para a AT a forma que Malévola via o mundo. Seus discursos giravam sempre em torno do ódio e da vingança. O vínculo terapêutico foi se dando gradativamente, e cada vez se fortalecendo mais.
Agora Malévola já saia do quarto, e já havia passeado com a AT em algumas partes do reino. A desconfiança que sentia de todos também era clara, mas a AT notava que em alguns momentos Malévola amolecia um pouco, deixando escorrer algumas lágrimas que rapidamente eram secas, demonstrando de certa forma, confiança em expor sentimentos como a tristeza, na opinião da AT.
A
AT determinou como objetivo ajudar Malévola a focar sua atenção e energia em
outras coisas, pois tudo em sua vida era focado na traição do passado. Desta forma traçou o seguinte projeto:
- Passeios por outros reinos, duas vezes por semana, a fim de que pudesse conhecer outros lugares, e quem sabe entreter-se com alguma coisa ou alguma pessoa. Esses passeios também proporcionariam que ela tivesse contato com outros ambientes, diferente do que estava vivendo há 16 anos, visto que esses reinos que seriam visitados são coloridos e alegres, podendo despertar a vontade de transformar seu reino em um lugar mais agradável.
- Passeios por outros reinos, duas vezes por semana, a fim de que pudesse conhecer outros lugares, e quem sabe entreter-se com alguma coisa ou alguma pessoa. Esses passeios também proporcionariam que ela tivesse contato com outros ambientes, diferente do que estava vivendo há 16 anos, visto que esses reinos que seriam visitados são coloridos e alegres, podendo despertar a vontade de transformar seu reino em um lugar mais agradável.
- Participação em festas,
com objetivo de conhecer outras pessoas e ver o comportamento destas, pois
desde a traição, Malévola havia transformado todos do seu reino em pessoas como
ela, amargas e arrogantes. Nem o que era um sorriso, ela não se lembrava mais.
- Criação de escritos,
livros ou poesias. Desta forma, ela estaria achando uma forma de descarregar
sua raiva e ódio, e explorando um talento que já havia demonstrado ter. Além do
mais, seria uma forma de ocupar o tempo com uma atividade produtiva e, também
de ressignificar partes da sua história do passado, escrevendo-a de outra
forma.
sábado, 25 de outubro de 2014
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